NO CONTROLE DO FIO MÁGICO DA VIDA

Por Cezar Britto

As pesquisas de opinião pública apontam o governante plantonista instalado no Palácio do Planalto como o mais impopular da História do Brasil. E não é sem razão o desapreço ao presidente que inaugurou o processo criminal no STF, agora suspenso em razão da cumplicidade de 263 deputados federais, de cerca de R$ 3,6 bilhões em liberação de emendas parlamentares e com o perdão das eternas e lucrativas dívidas de ruralistas. Afinal, a chamada “Era Temer” expõe, sem despudor ou máscara, a quadra do tempo em que o direito ao trabalho ficou desempregado e sem qualquer proteção, a estação pontual em que o patrimônio nacional foi vendido a preço vil, a linha cronológica em que a máquina estatal não poupou esforços para fortalecer o poder econômico, a ocasião em que a imagem do Brasil foi descascada como banana e o período em que a parte social da Constituição Federal hibernará por vinte anos.

Mas a questão mais intrigante decorre de um fenômeno ainda não avaliado pelas pesquisas. Como explicar a dissintonia entre o clamor popular e a quase invisível reação à consolidação da temerosa política imposta pelo rejeitado governante? O que dizer deste surpreendente “silêncio ensurdecedor”? Como explicar a inércia que se espalha em surto contaminante, deixando como sintoma visível a palidez envergonhada das bochechas que se maquiavam de pudor e amor cívico pelo Brasil? Como entender a repentina rouquidão das ruidosas vozes que vociferavam contra a corrupção? Como compreender a mancha de bolor amarelado grudada em cada amassada panela que agora dormita nos escuros armários da acomodação? Como aceitar a repristinação, sem reação, da velha frase do ministro da ditadura Jarbas Passarinho: “Às favas todos os escrúpulos de consciência”?