Carta aberta de Manuel Castells aos intelectuais do mundo sobre as eleições no Brasil

Fonte: Blog Leonardo Boff

Manuel Castells é um dos mais conhecidos sociólogos do mundo e especialista em comunicação. Seu livro mais famoso é “A sociedade em rede”.Depois de lecionar em várias universidades, está agora na Califórnia do Sul, continuando suas pesquisas em comunicação e sua incidência na nova sociedade emergente. Seu nome tem grande peso. Por isso publicamos sua carta neste espaço Lboff

Amigos intelectuais comprometidos com a democracia:

O Brasil está em perigo. E com o Brasil, o mundo. Porque, após a eleição de Trump, a tomada do poder por um governo neo-fascista na Itália e a ascensão do neonazismo na Europa, o Brasil pode escolher presidente um torcedor fascista da ditadura militar, misógino, sexista, racista e xenófobo, que obteve 46% no primeiro turno das eleições presidenciais.

Não importa quem é seu oponente. Fernando Haddad, a única alternativa possível, é um candidato acadêmico respeitável e moderado para o PT, um partido hoje desacreditado por ter participado da corrupção generalizada do sistema político brasileiro.

Mas a questão não é o PT, mas uma presidência de um Bolsonaro capaz de dizer a um deputado, em público, que “não merece ser estuprada por ele”. Ou que o problema com a Ditadura não era a tortura, mas que não matava ao invés de torturar.

Em tal situação, nenhum intelectual, nenhum democrata, nenhuma pessoa responsável do mundo em que vivemos, podemos permanecer indiferentes. Eu não represento ninguém além de mim mesmo.

Eu não apoio nenhuma parte. Eu simplesmente acho que é um caso de defesa da humanidade, porque se o Brasil, o país decisivo na América Latina, cai nas mãos deste caráter desprezível e perigosa, e os poderes que lhes dão suporte, os irmãos Koch, entre outros, teremos precipitado ainda mais na desintegração da ordem moral e social do planeta que estamos presenciando.

É por isso que estou escrevendo para todos vocês, para aqueles que conheço e para quem gostaria de me encontrar. Não para que subscrevam esta carta como se fosse um manifesto aos ditames dos políticos. Mas pedir a cada um para fazer publicamente e em termos pessoais seu pedido de participação ativa na segunda volta das eleições presidenciais, em 28 de outubro, e nosso apoio a uma votação contra Bolsonaro, argumentando de acordo com o que cada um pensa, e espalhar sua carta através de seus canais pessoais, redes sociais, mídia, contatos políticos, qualquer formato que espalhe nosso protesto contra a eleição do fascismo no Brasil.

Muitos de nós temos contatos no Brasil, ou temos contatos com contatos. Vamos contatá-los A que aplicativo é suficiente ou uma ligação telefônica pessoal. Nós não precisamos de um #. Somos pessoas, milhares, potencialmente falando para milhões, no mundo e no Brasil, e porque ao longo de nossas vidas adquirimos com nossa luta e integridade, uma certa autoridade moral, vamos usá-la neste momento antes que seja tarde demais.

Eu vou fazer isso, estou fazendo isso. E eu apenas rezo para que cada um faça o que puder.

Manuel Castells

 

Texto original:

Amigos intelectuales comprometidos con la democracia:

Brasil esta en peligro. Y con Brasil el mundo. Porque despues de la eleccion de Trump, de la toma del poder por un gobierno neo-fascista en Italia y por el ascenso del neonazismo en Europa, Brasil puede elegir presidente a un fascista, defensor de la dictadura militar, misogino, sexista, racista y xenofobo, que ha obtenido 46% en la primera vuelta de las elecciones presidenciales.

Poco importa quien sea su oponente. Fernando Haddad, la unica alternativa posible, es un academico respetable y moderado, candidato por el PT, un partido hoy dia desprestigiado por haber participado en la corrupcion generalizada del sistema polico brasileno.

Pero la cuestion no es el PT, sino una presidencia de un Bolsonaro capaz de decir a una diputada, en publico, que “no merece ser violada por el”. O que el problema con la Dictadura no fue la tortura sino que no matar en lugar de torturar.

En una situacion asi, ningun intelectual, ningun democrata, ninguna persona responsable del mundo en que vivimos, podemos quedarnos indiferentes. Yo no represento a nadie mas que a mi mismo.

Ni apoyo a ningun partido. Simplemente, creo que es un caso de defensa de la humanidad, porque si Brasil, el pais decisivo de America Latina, cae en manos de este deleznable y peligroso personaje, y de los poderes facticos que los apoyan, los hermanos Koch entre otros, nos habremos precipitado aun mas bajo en la desintegracion del orden moral y social del planeta a la que estamos asistiendo.

Por eso les escribo a todos ustedes, a los que conozco y a los que me gustaria conocer. No para que suscriban esta carta como si fuera un manifiesto al dictado de politicos. Sino para pedirles que cada uno haga conocer publicamente y en terminos personales su peticion para una active participacion en la segunda vuelta de las elecciones presidenciales, el 28 de octubre, y nuestro apoyo a un voto contra Bolsonaro, argumentandolo segun lo que cada uno piense, y difundiendo su carta por sus canales personales, redes sociales, medios de comunicacion, contactos politicos, cualquier formato que difunda nuestra protesta contra la eleccion del fascismo en Brasil.

Muchos de nosotros tenemos contactos en Brasil, o tenemos contactos que tienen contactos. Contactemoslos. Un what’s app es suficiente, o una llamada telefonica personal. No nos hace falta un #. Somos personas, miles, potencialmente hablando a millones, en el mundo y en Brasil Y porque a lo largo de nuestra vida hemos adquirido con nuestra lucha e integridad, una cierta autoridad moral, utilicemosla en este momento antes que sea demasiado tarde.

Yo lo voy a hacer, lo estoy haciendo. Y simplemente ruego que cada una/uno haga lo que pueda.

Manuel Castells